Minha essência, meus defeitos

Já disse sabiamente Clarice Lispector: “Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta o edifício inteiro.” Eu, como todo e qualquer mortal desse mundo, tenho muitos defeitos. Mas um deles sobre o qual quero falar hoje é não ser tão, digamos, sociável.

Explico: eu gosto de estar entre amigos, participar de (pequenas) reuniões sociais, conversar, dar risada, enfim. Mas é de extremíssima importância pra mim – cada vez mais, com o passar dos anos – ficar sozinha, estar em silêncio. Para me reconectar comigo mesma, reorganizar as ideias e também me reenergizar, para que então, esteja inteira e disposta a me conectar novamente e trocar com outras pessoas.

Quem me conhece já sabe. Isso vale até para a minha própria família. Embora às vezes não seja possível ficar totalmente sozinha. Mas quando as coisas apertam, saio de cena de fininho, entro no banheiro para um banho mais demorado ou simplesmente me finjo de planta escondida no quarto pelos próximos dez minutos até meu filho ou meu marido aparecem me solicitando.

O fato é que, apesar de ser considerado um defeito por alguns, essa é uma forte característica minha que me faz ser quem eu sou. Dias atrás durante uma reunião de amigos, uma pessoa próxima falou que eu sou muito chata por não gostar de estar “na muvuca, entre pessoas”. Dei um sorriso amarelo e disse que esse é o meu jeito.

Mas, embora seja um fato, gosto dos momentos de introspecção (o chata fica por conta de quem pensa assim), aquele comentário me incomodou de alguma forma e fiquei pensando depois: até onde tenho que passar por cima do que eu gosto/quero para agradar outras pessoas?

Preciso mudar meu jeito de ser e pensar só porque alguém pensa diferente ou me considera chata por ser assim? Não! Óbvio que não. Talvez para quem critica em tom de piada e não aceita o diferente, vale a reflexão sobre esse comportamento.

Já para mim, depois de pensar um pouco a respeito, cheguei à conclusão de que me conheço bem o suficiente para trazer o “comentário” à consciência, validar e procurar o que havia me incomodado nele. E então posso dizer que, embora possa ser estranho para alguns, talvez esse meu defeito tenha me sustentado até aqui, e tentar me livrar dele só me faça desmoronar.

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