
Recentemente estava lendo uma newsletter que acompanho semanalmente e surgiu o conceito de mapa afetivo. São os lugares que você de alguma forma acompanhou ao longo da vida e traz lembranças e memória afetiva.
Na hora começou a vir na minha cabeça o meu mapa. E me ocorreu como nunca pensei em escrever sobre isso? O meu mapa é muito querido e sempre comentado entre família e amigos.
Nasci e cresci no bairro da Lapa, na zona Oeste de São Paulo. Sempre fui apaixonada pelo bairro e dizia, quando ainda era menina – e nem sabia quando e se eu ia casar – que o dia que me casasse, eu certamente iria morar ali nos arredores.
Após o falecimento da minha mãe e um período de três anos morando em outro bairro pude voltar e aquilo me encheu de alegria.
Coincidentemente, essa semana, conversando com uma amiga que participou da minha vida ativamente lá atrás durante um período, ela também citou o bairro e trouxe à tona memórias gostosas ali com a minha mãe. Os longos passeios com o cachorro da melhor amiga dela, as idas à padaria da nossa rua toda tarde para garantir o pão fresquinho, comércios que existiram e já fecharam…
Um deles que era símbolo do bairro, e após muitas décadas fechou as portas, era a Cantina Piperoni – ou o bar do Mário, para os íntimos. Na frente era um boteco de bairro, quando você entrava pelo corredor, lá no fundo havia uma cantina típica italiana com massas frescas e saborosíssimas. Meu pai frequentou muito o local e, anos depois, com meus pais já separados, eram o “point” da família quando meus tios vinham almoçar aos sábados. Ficávamos ali tomando uma cervejinha na calçada, embaixo das sombras das árvores apreciando a luz, o movimento da rua enquanto minha mãe terminava de preparar o almoço.
É também o bairro das memórias de adolescência, quando andávamos pelas ruas da região entre amigos, sentávamos na porta da casa da amiga comendo salgadinho, contando histórias, falando dos meninos e dando muitas risadas. As ruas por onde nos escondíamos da minha mãe ou da avó da amiga quando elas estavam loucas atrás da gente porque já era hora de cada uma voltar pra sua casa, mas nós só queríamos mais uns minutinhos juntas pra papear porque todas as horas do dia nunca eram suficientes.
Bons tempos e boas lembranças. A minha profecia de menina se concretizou. Eu voltei para o bairro. Hoje ali, construo a história da minha família e especialmente do meu filho, que todas as manhãs de sábado vai tomar café na “padaria que tem brinquedos”, me acompanha ao mercado que tem o carrinho pra ele dirigir enquanto faço compras e faz amizades com as crianças do prédio.
Um dia vai ser a vez dele de olhar para trás e observar o próprio mapa afetivo e espero que ele sinta a mesma alegria e nostalgia que eu sinto ao lembrar do meu cada vez que passo por aquelas ruas.