Com a chegada do isolamento social, vieram novos hábitos aos quais fomos nos adaptando aos poucos. Lidar com as crianças em casa, o serviço doméstico e o home office – tudo junto e ao mesmo tempo – tem sido desafiador para muitas famílias. Somado a isso, ainda vieram as aulas on-line, exigindo dos pais maior atenção para apoiar as crianças.
No caso do Otto nem posso dizer que é exatamente uma aula porque ele ainda não está na fase de alfabetização. Mas todos os dias temos uma pequena programação para fazer com as crianças.
O fato é que esse é um cenário completamente novo e desconhecido para todos, e não sabemos o jeito “certo” de fazer.
Na escola do Otto tem sido assim: diariamente a professora envia uma atividade como receitas, histórias, brincadeiras, dobraduras etc e sugere que os pais façam com as crianças e enviem fotos para que elas vejam o que os alunos têm feito. Às sextas, todos entram on-line no Google Meeting para um bate-papo rapidinho e as crianças terem contato com os coleguinhas e as professoras. As atividades são válidas para estimular a aprendizagem e serve também para momentos de conexão entre pais e filhos.
No caso de crianças que ainda não estão em fase de alfabetização será mesmo necessário? Além do pouco interesse da criança, gera uma ansiedade enorme nos pais (digo por mim) de precisar cumprir a tarefa, encaixá-la na lista de outras tantas de todo dia, enviar a foto para mostrar para a escola que o esforço da professora não foi em vão e não sou uma péssima mãe que não cumpriu a tarefa do dia. Também sinto pelos professores, sei do enorme esforço que tem sido feito num espaço curto de tempo sem as ferramentas necessárias para tentar tampar esse buraco.
Vejo aqui um cenário difícil para ambos os lados: professores tendo que criar conteúdos e tendo que desenvolver habilidades que não tinham ou não eram necessárias antes, como gravar e editar vídeos, utilizar ferramentas antes desconhecidas, criar conteúdo novo diariamente para nos enviar; do outro lado, pais vivendo a loucura que citei no início do texto e tendo que lidar com a ansiedade de dar conta de todas as atividades e não deixar nada por fazer.
Minha reflexão aqui é: por quanto tempo ainda vamos suportar esse cenário? Não sabemos até quando a pandemia e o isolamento social ainda vão continuar. Tenho acompanhado mães compartilhando suas dores nessa questão de homescholing e sempre sinto um peso, uma preocupação grande. E mais, no caso de crianças na fase do Otto, em que toda a aprendizagem é baseada na convivência, na inserção da criança no ambiente social com outras crianças (em como sentar com o coleguinha, não bater, não tomar o brinquedo do outro e etc) faz sentido continuarmos com essa programação?
Sei que tem o outro ponto de vista também. Alguns pais não sabem mais o que fazer com os filhos dentro de casa e essa é uma alternativa para burlar a falta de criatividade e opções de atividades. É preciso também manter as escolas, os salários dos professores e de tantos profissionais envolvidos para fazer essa engrenagem rodar. Mas é um assunto em que tenho pensado bastante ultimamente, e resolvi compartilhar aqui para gerar essa reflexão.
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